quinta-feira, 3 de abril de 2008

Bobo de bom.

Estávamos voltando da câmara dos vereadores de Diadema, no táxi, quando o assunto surgiu. A câmara, prá quem não sabe, é o lugar onde os homens feios se reúnem, falam rápido, mexem freneticamente as mãos e cospem no microfone. Por isso, foi uma cena iluminada quando eu vi aquele vereador mais bonitinho. É legal, meio a tantos deselegantes e feios políticos, encontrar um mocinho de terno, sapato, gravata e dentes brilhantes defendendo aquele monte de moradores pobres que teriam suas casas destruídas pela Ecovias. Como todo jovenzinho no auge de seus 25 anos, o moçoilo encarava os veteranos e sorria a cada frase, afirmando que as casas não seriam destruídas. Era quase inaceitável sua postura perante os outros: com sorriso maroto e uma empolgação que só, falava sobre o caso e o defendia com unhas e dentes (lindos e branquinhos, por sinal).
Saí de lá feliz e entrei no táxi. Estávamos eu e mais duas repórteres. Não resisti e fiz um comentário:
- Estou amando.
Uma delas riu e disse que concordava. A outra, porém...
- Mas, Pati...ele é muito bobo!
Silêncio.
E foi essa a discussão. Nós três mais o taxista ficamos falando sobre o quanto homens bobos atraem as mulheres.
Bem. O nosso nobre exemplinho vereador pode ser considerado, de fato, um bobão. Em determinada hora da ordem do dia na câmara, ele foi ao microfone defender a manutenção de cemitérios da cidade, que estão abandonados. Então ele disse:
- Esses cemitérios são uma vergonha! Os familiares das pessoas não têm mais onde descansar em paz. Pois olhem bem, senhores. Nem os macumbeiros podem fazer suas macumbas sossegados por lá!
(silêncio)
Ai, mas eu achei lindinho. E engraçadinho. Me descontraiu no meio daqueles chatos que ficam gaguejando por não encontrarem palavras difíceis.
Na vida tem que ser assim. Prá que essa coisa chata de falar tudo o que é certo sempre? Deve ser bem desagradável sair com um cara que não atura o ridículo. Porque o ridículo me atrai. E é ele que me diverte.

Vamos lá, parem prá pensar: existe na vida algo mais puramente doce que o doce adocicado de um homem bem bobão?

E ela ainda vai apanhar.

Situação número 1:
Estava eu no meio da loja e então aquele cliente com cara de bravo me diz:
- Você tá me irritando!
Toda preocupada, lanço um olhar de pobre coitada e com delicadeza respondo:
- Eeeeu? Ai, mas poxa...que eu te fiz?
Eis que ele aponta o celular (o celular! o celulaaaaar! aaaaaaa) na orelha, e faz aquela cara de 'sua-idiota-não-era-com-você-eu-mal-te-conheço-estou-brigando-com-a-broaca-da-minha-mulher-e-você-ainda-me-vem-com-essa-sua-ridícula'...
(saio correndo e vou jantar)

Situação número 2:
No outro dia, um cliente com cara de machão - os oito anos de jiu-jitsu, sete anos e meio de judô e mais 13 de luta livre estavam estampados na testa do sujeito - passa no caixa. Eu, toda-espertona, confirmo o endereço.
Eu: Ahn, então o endereço é rua Márques de Maricas, né?
Ele: Maricas?
Eu: Sim, Maricas. É que diz aqui.
Ele: Não, minha filha. É Marquês de Maricá. Eu lá ia morar numa rua de Maricas?
Eu: Ahn...hihi, é mesmo. É que aqui no sistema não aparece acento, nem cedilha. (sorriso).
Ele: há...
(fim de papo)

(Texto antigo. Não trabalho mais lá. Êêêê)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O cocô no tapete vermelho.

A cerimônia do Oscar® me decepcionou, mais uma vez. Eu estava esperando, ansiosa, por uma 'melhor canção original' decente. E, nesse ano, as boas opções existiam e estavam lá! Mas não! Optaram por uma porcaria de um filme independente-coitadinho. Sério, a música é até bonitinha, mas muito fraca - e até enjoativa - para ser merecedora da estatueta. Porém, a trilha sonora de Encantada estava bem legal, relembrava os clássicos de antigamente. Um suave toque de Mary Poppins com Bela Adormecida. E, sabe, isso foi nostálgico, eu gostei e pronto. Podem me xingar.

ps : estou brava porque acabei dormindo e perdi partes cruciais da festança.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Jane e eu

Quando eu era criança eu imaginava muitas coisas. Imaginava, por exemplo, que quando eu tivesse menos de 18 anos conheceria um cara em algum lugar (de preferência em Peruíbe) e, ao avistá-lo pela primeira vez, saberia com certeza que estava diante do homem da minha vida. Esse foi o primeiro erro de uma seqüência amargamente significativa que define minha vida amorosa até o presente momento e, definitivamente, o pior de todos.
Mas, diferente da maioria das mulheres que choram pelo mesmo motivo, na minha história eu não sou a vítima. E não, eu não sofri de abandono, traição, deslealdade, amor não-correspondido ou períodos sucessivos de azar pós-pré-menstrual.
Pois foi justamente no auge da minha amargura que conheci Jane Austen, escritora inglesa do século 17. Bem, eu já havia lido alguns livros e visto os filmes baseados nos livros dela, mas foi semana passada que assisti o filme ‘Persuasão’. O filme mal chegou ao cinema, mas eu encontrei por acaso no camelô (sim, os camelôs geralmente não vendem filmes bonitos que a maioria das pessoas não conhecem e não têm interesse, por isso considerei este meu ‘achado’ um tipo de coisa do destino). Enfim, quando o filme terminou, eu percebi uma coisa que me deixou muito chateada. Eu vou ter que contar o filme todo porque eu preciso muito fazer isso.
A história é sobre uma mulher que, no auge de sua juventude se apaixona por um cara e vice-versa. Porém, é aquela velha história: o cara é pobre, ela é rica. Na verdade, ao contrário do que eu imaginava, não há empecilho nenhum para que os dois se casem. O pai não incentiva, mas também não a pune. O real motivo que a faz recusar o pedido de casamento do moço é a tal da persuasão do título mesmo. A melhor amiga dela é contra, e faz a cabeça para que não se iluda com uma paixãozinha, que a vida não é um conto de fadas e etc. Ela acaba concordando e dá um pé na bunda do coitado. Eu não a condeno. Mas também não o condeno pelo sofrimento que ela causa.
Bem, 8 anos depois ela então com seus 27 anos e solteirona. Considerando que no século 17 isso significava encalhada, era assim que ela se sentia e era assim também que os outros a faziam sentir. O pai, meio falido, decide alugar a mansão onde a família vive para conseguir melhorar a situação financeira. Adivinha quem é o inquilino?
A irmã do rapazote por quem ela fora apaixonada. E este agora está muito, muito rico. E muito, muito bonito. E muito, muito cobiçado. E - ainda - muito, muito magoado. O negócio é que eles sofrem prá caramba, mas acabam ficando juntos, como em todo bom romance romântico bonito e feliz.
Então eu fui pesquisar sobre a vida da nossa queria autora Jane Austen e então foi o que li: ela se apaixonou por um rapaz quando tinha 20 anos, mas ele era pobre, ela era rica. Os dois se separaram. Dizem que os anos se passaram e ela nunca o esqueceu. Isso foi na mesma época em que ela escreveu ‘ Persuasão’. Jane morreu solteira.
Essa foi a maior prova da barreira entre vida-real e a ficção que já presenciei. Foi estranho na hora, mas me senti a detetive de uma trágica história de amor. E agora eu me pergunto se o livro teria sido o refúgio de Jane para que as coisas terminassem bem.